O que marca o início do casamento humano, para Deus? O registro civil? A cerimônia religiosa? A relação sexual “com amor”?
É equivocada a ideia de que sexo “com amor” entre solteiros não fere os princípios das Escrituras e constitui o casamento. Se fosse a união sexual que fizesse o casamento, não faria sentido a recomendação do apóstolo Paulo para que os solteiros que, não podendo se conter, se casassem, pois é melhor casar do que “abrasar-se” (1 Cor. 7:9).
Não é o sexo que constitui o casamento; é o casamento que autoriza o sexo. Jesus disse à mulher samaritana: “[…] tiveste cinco maridos e o que agora tens não é teu marido; isso disseste com verdade” (Jo. 4:18). Certamente não era por ausência do intercurso sexual que o sexto homem que ela “tinha” não era seu marido.
Como pode a união sexual estabelecer o casamento, se Deuteronômio 22:23 fala de “moça virgem, desposada com algum homem”? Virgem e desposada era noiva, que já era também considerada esposa. E José era marido de Maria (Mat. 1:19), mas ela era virgem: “Ora, o nascimento de Jesus Cristo foi assim: Estando Maria, sua mãe, desposada com José, antes de se ajuntarem, achou-se ter concebido do Espírito Santo” (Mat. 1:18; veja também vv. 19, 23, 25). Ela era uma “virgem desposada com um varão cujo nome era José” (Lc. 1:27). Eles realizaram a cerimônia de noivado, mas não ainda a de casamento. Nem a prática sexual marcava o começo do casamento, nem era ela admitida antes dele.
Lemos no artigo “O que constitui o casamento de acordo com a Bíblia?”, publicado no sítio www.gotquestions.org, na Rede (https://www.gotquestions.org/marriage-constitutes.html):
Se o intercurso sexual faz com que um casal se torne casado, ele não poderia ser considerado imoral, pois o casal seria considerado casado no momento em que se envolvesse em relação sexual. Não há absolutamente nenhuma base bíblica para um casal não casado fazer sexo e depois se declarar casado, declarando assim que todas as relações sexuais futuras são morais e que honram a Deus.
Se relação sexual constitui-se casamento, não haveria concubinas no Velho Testamento e além.
Jay E. Adams afirma: “A noção de que o casamento começa na lua de mel, quando as relações sexuais ocorrem pela primeira vez, e não quando os votos são feitos, é totalmente estranha às Escrituras.” Adams diz ainda que o casamento é maior que a união sexual e a inclui.[1]
Jesus compareceu a um festivo casamento (João) 2). Mas certamente não foi a festa que constituiu o casamento do casal. Algum momento cerimonial muito provavelmente ocorreu.
Adams sustenta, corretamente, que “um casamento é consumado quando um homem e uma mulher trocam votos diante de Deus e um do outro, e entram em um relacionamento pactual.”[2] Lê-se em Ezequiel 16:7-9:
Eu te fiz multiplicar como o renovo do campo, e cresceste, e te engrandeceste, e alcançaste grande formosura; avultaram os seios, e cresceu o teu cabelo; mas estavas nua e descoberta. E, passando eu por ti, vi-te, e eis que o teu tempo era tempo de amores; e estendi sobre ti a ourela do meu manto e cobri a tua nudez; e dei-te juramento e entrei em concerto contigo, diz o Senhor Jeová, e tu ficaste sendo minha.
O que Deus fez ao povo de Israel é descrito poeticamente com linguagem de casamento: No “tempo de amores”, “entrei em concerto contigo”, “tu ficaste sendo minha”. O casamento era constituído por um pacto de amor e lealdade.
“[O] Senhor foi testemunha entre ti e a mulher da tua mocidade, com a qual tu foste desleal, sendo ela a tua companheira e a mulher do teu concerto.” (Malaquias 2:14)
A esposa é a “mulher do concerto” do marido, que é o “homem do concerto” da esposa.
O concerto ou pacto, de qualquer natureza, é, em si, testemunha do que se combinou: “[F]açamos concerto, eu e tu, que seja por testemunho entre mim e ti” (Gênesis 31:44).
Mas era natural ao conceito de pacto, que ele fosse escrito:
“[F]izemos um firme concerto e o escrevemos.” (Neemias 9:38)
“Disse mais o Senhor a Moisés: Escreve estas palavras; porque, conforme o teor destas palavras, tenho feito concerto contigo e com Israel.” (Êxodo 34:27)
No Velho Testamento, o primeiro passo para o casamento era a cerimônia de noivado – erusin, que significa “atados”. É como um noivado. Era firmado um contrato escrito de casamento diante de, pelo menos, duas testemunhas. Para qualquer efeito, duas testemunhas davam fé pública a um fato – “pela boca de duas ou três testemunhas, se estabelecerá o negócio” (Deut. 19:15).
Pelo erusin, os noivos eram reservados um para o outro e recebiam o status de casados. Mas eles não podiam ainda morar juntos e ter relações sexuais. O noivado era um casamento contratado, mas ainda não consumado. Durava tipicamente um ano e só podia ser rompido por divórcio. Finalmente, era realizada a cerimônia de casamento – nissuin, “elevação [de status]”.
O que constitui essencialmente o casamento é o pacto entre o rapaz e a moça, documentado e testemunhado. Malaquias 2:14 diz: “o Senhor foi testemunha entre ti e a mulher da tua mocidade, com a qual tu foste desleal, sendo ela a tua companheira e a mulher do teu concerto.” O casamento se constitui por um pacto público, testemunhado, de lealdade. Segundo o profeta, Deus foi testemunha da deslealdade, assim como foi testemunha do voto de lealdade.
Precisa ser no cartório? A pergunta pode ser respondida com o seu oposto: Precisa não ser no cartório? O casamento civil não é meramente “para ter um papel”, mas por todas as implicações legais do casamento. O casamento civil faz diferença para Deus? Se o casamento civil é um pacto documentado e testemunhado, por si só ele constitui o que é essencialmente o casamento, especialmente se os dois são cristãos e as testemunhas também. Não é um lugar santo, inexistente, mas o povo santo, que torna o evento santo. O templo em que habita o Espírito Santo anda com as pernas dos crentes.
O pastor Nelson Junior, idealizador e líder do louvável ministério Eu Escolhi Esperar, afirma em Eu Escolhi Esperar que “quando duas pessoas se unem no cartório, elas não estão liberadas para ter relações sexuais se a cerimônia não acontecer no mesmo momento. A celebração religiosa é fundamental, pois é por meio dela que testemunhamos publicamente a decisão de constituir uma família.
Será a certidão de casamento emitida por um cartório, um documento civil, o habilitador espiritual diante de Deus para a prática sexual? “A certidão de casamento não é “somente um pedaço de papel” que transforma uma coabitação imoral em um relacionamento aceitável. Mas ela é uma troca pública de votos que o casal sustentará e edificará um ao outro […].” Gledhill, p. 217
[1] Ibid., p. 5.
[2] Marriage, Divorce, and Remarriage in the Bible. Grand Rapids, Michigan: Zondervan, 1986. p. 6, tradução minha.