— Eu não gostava muito da empresa que eu trabalhei.
— Por que você não gostava muito da empresa em que você trabalhou?
— Porque não me puseram no trabalho que eu mais me identifico.
— E qual é o trabalho com que você mais se identifica?
— O que é da área que me formei.
— Você se formou a área?
— Hein?
— E qual é a área em que você se formou?
— Eu fiz Letras. Português sempre foi a matéria que eu mais me destaquei.
— Você mais se destacou o português?
— Hein?
— Então, Português foi a matéria em que você mais se destacou…
— Sim. Até na faculdade que eu estudei.
— Você estudou a faculdade?
— Hein?
— A faculdade em que você estudou é muito exigente?
— Mais ou menos. Mas o que vale mesmo é a dedicação que o aluno estuda.
— O aluno estuda a dedicação?
— Hein?
— Você não acha que deveria estudar mais?
— Sim, claro! A gente não pode parar de estudar nunca. Agora eu vou me dedicar mais ao inglês. Um rapaz que eu me apaixonei, mas que não cheguei a namorar, fala inglês muito bem.
— Você se apaixonou o rapaz?
— Não entendi.
— Então você vai se dedicar mais ao inglês…
— Sim. Se eu pudesse, estudaria inglês no exterior. Mas não para ficar por lá. Eu amo o país que eu nasci.
— Você nasceu o país?
— O senhor é engraçado.
— Há um provérbio sumério, da longínqua antiguidade, que diz: Que espécie de escriba é um escriba que não conhece o sumério?
— Um escriba sumério que não conhece o sumério? Só rindo.
— Então você é formada em Letras e gostaria de trabalhar na redação e revisão de textos…
— Isso.
— Só rindo… do escriba sumério que não sabe sumério.
— Só vou ficar devendo um pouco o inglês. Mas vou me esforçar. Eu falo alguma coisa. Mas eu tenho muita dificuldade com as preposições: in, at, on, it
— Entendo. As preposições são o seu calo na língua inglesa (também)!
— Sim. É o que eu mais preciso melhorar na língua inglesa.
— Mas isso é fantástico! Em vez de serem as preposições aquilo em que você precisa melhorar, elas são, em si, o que você precisa melhorar. Você vai melhorar as preposições na língua inglesa! Você prestará um grande serviço à humanidade! A vida de Shakespeare teria sido mais fácil depois de você.
— Agora eu me perdi.
— Eu é que estou me perdendo… agora…
— O senhor não está se sentindo bem? Está com falta de ar?
— Não, estou com falta de preposição.
— Nunca ouvi falar disso. O que eu posso ajudar?
— Ai, que pontada! Em que você pode ajudar? Chame a secretária?
— Qual das duas? Aquela da mesa que está o computador?
— Ai! Mais uma pontada! Não, chame aquela da mesa em que está o computador, sua… sua…
— Moço! Moço! Socorro! Socorro! Alguém ajude aqui! Ai, gente, ele estava falando umas coisas estranhas, sem sentido, desde o começo da entrevista. Acho que ele estava delirando.

— A anta já se foi?
— Já, sim, senhor Roberto. Pode se levantar.

Descomplicando a Fé Cristã
Compartilhe esta página