3:1-4 De noite, em meu leito, busquei aquele a quem ama a minha alma; busquei-o, porém não o achei. Levantar-me-ei, pois, e rodearei a cidade; pelas ruas e pelas praças buscarei aquele a quem ama a minha alma. Busquei-o, porém não o achei. Encontraram-me os guardas que rondavam pela cidade; eu lhes perguntei: Vistes, porventura, aquele a quem ama a minha alma? Apenas me tinha apartado deles, quando achei aquele a quem ama a minha alma; detive-o, e não o deixei ir embora, até que o introduzi na casa de minha mãe, na câmara daquela que me concebeu.

A moça não está contando um fato acontecido; mas um sonho. Franz Delitzsch escreveu: “Como poderia esta busca noturna, com toda a força de amor, ser consistente com a modéstia de uma donzela? É, assim, um sonho que ela relata.”[1]

Então, “De noite em meu leito busquei” referir-se-ía a um sonho, visto que, se o moço não deveria em realidade estar junto dela, porque eram solteiros, não faz sentido que ela o procurasse ali.

Ela se levanta e sai à procura dele pelas ruas e praças da cidade. Ele chegou a indagar os guardas da ronda noturno sobre o moço: “Vistes, porventura, aquele a quem ama a minha alma?” Como se os policiais soubessem a quem ela ama! “Não ocorre a ela que os guardas locais não teriam qualquer idéia de quem ela estava procurando – ela conhece seu amado; portanto, o mundo todo deve conhecê-lo também!”[2] Tudo é inverossímil. Mas tudo é um sonho. Esse episódio se repete posteriormente (5:2, 6-7), quando a moça diz explicitamente que fora um sonho, como veremos mais tarde.

Talvez a menção de “casa de minha mãe” e “câmara daquela que me concebeu” represente a consciência virtuosa do conselho materno. “Que lugar melhor poderia uma garota de coração puro encontrar para levar seu namorado que a casa de sua mãe, à exata presença de sua mãe?”[3]

Mais uma vez, a moça admite que é cedo para o acasalamento: “Conjuro-vos, ó filhas de Jerusalém, pelas gazelas e cervas do campo, que não acordeis, nem desperteis o amor, até que ele o queira” (v. 5). Ela sabe o que quer! Ainda é tempo de sonhar, não de realizar.

“Saí, ó filhas de Sião, e contemplai o rei Salomão com a coroa de que sua mãe o coroou no dia do seu desposório, no dia do júbilo do seu coração” (v. 11). O dia do casamento de um jovem é o dia em que ele é coroado rei por sua mãe. Uma bela imagem!


[1] Ibid., p. 58, tradução minha.
[2] Carr, op. cit., p. 105.
[3] Woods, op. cit., p. 65.

Descomplicando a Fé Cristã
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