Os pesquisadores que nos abençoaram com todas as vacinas e drogas que previnem, aliviam ou curam muitas doenças, merecem a nossa gratidão e admiração. E a anestesia é uma das maiores dádivas que a humanidade recebeu.
Até as primeiras décadas do século XIX, as cirurgias eram enfrentadas pelos pacientes com plena dor. A escritora inglesa Frances Burney, autora do belíssimo romance Camila, entre outros, foi submetida a uma mastectomia em 1811, antes do advento da anestesia. Em uma carta à sua irmã Esther, ela falou do “terror que ultrapassa toda descrição e a mais torturante dor”.
Em 16 de outubro de 1846, o dentista e estudante de Medicina William T. G. Morton demonstrou publicamente a anestesia por inalação de vapor de éter. Ele preparou o paciente, para que o cirurgião, John C. Warren, removesse um tumor de sua mandíbula. O procedimento ocorreu no Hospital Geral de Massachusetts, em Boston.
Morton estava atrasado para chegar ao anfiteatro, onde seria feita a cirurgia, na presença de curiosos estudantes, professores e médicos. Warren resolveu realizar o procedimento assim mesmo, sem o uso da tão esperada novidade. Porém, no exato momento em que ele começaria, Morton chegou.
Depois de administrar o vapor de éter, Morton disse: “Dr. Warren, o seu paciente está pronto.” O paciente não sentiu qualquer dor durante o procedimento. Warren falou o seguinte, tempos depois, sobre a “tão preciosa dádiva”, pela qual o cirurgião não ouviria mais os gritos agonizantes dos pacientes: “Ela despertará a gratidão da presente e de todas as vindouras gerações.”
Eu já passei por salas cirúrgicas diversas vezes. A minha grata reverência aos cientistas da anestesia. É significativo para mim ser pai de um médico anestesista.