Índice do Curso

O apóstolo Paulo escreveu em sua carta aos cristãos colossenses: “E, quando esta epístola tiver sido lida entre vós, fazei que também o seja na igreja dos laodicenses; e a que veio de Laodiceia, lede-a vós também” (Col. 4:16).

Mas onde está essa carta aos laodicenses? Sumiu? Ou ela é, na verdade, uma das cartas do apóstolo que está no Novo Testamento?

Se ela sumiu, como fica a ideia radical de que o cânon está fechado e perfeito, de modo que nele entrou o que tinha que entrar e não entrou o que não tinha que entrar?

Vamos começar vendo o que dizem alguns comentários da carta aos colossenses.

  • “Há inúmeras teorias sobre a identidade da carta de Laodiceia mencionada nesse versículo. Talvez não seja possível precisar se ela é uma das outras cartas do Novo Testamento, como 1 ou 2 Tessalonicenses ou Efésios, nem se é uma epístola perdida.” (A Carta aos Colossenses. In: O Novo Comentário Bíblico – Novo Testamento. H. Wayne House (ed. do NT). Rio de Janeiro: Central Gospel, 2010. p. 553)
  • “Presumivelmente agora perdida, embora alguns a têm identificado com Efésios, que assumimos ter sido escrita mais tarde; outros, com Filemon. Há também uma carta laodicense apócrifa.” (Ernest G. Ashby. The Letter to the Colossians. In: A New Testament Commentary. G. C. D. Howley (gen. ed.). Grand Rapids, MI: Zondervan, 1969. p. 490. Tradução nossa.)

A carta aos laodicenses poderia ser cópia de uma carta enviada pelo apóstolo a a alguma igreja, para ser enviada à igreja em Laodiceia, do mesmo modo que uma cópia da carta aos cristãos em Colossos deveria ser enviada à igreja em Laodiceia. Essa é uma hipótese verossímil e natural. Ainda assim, não seria absurda a hipótese de que a carta aos laodicenses não foi preservada, especialmente à luz do que Paulo escreveu em sua assim-chamada “primeira” carta aos coríntios:

Já por carta vos tenho escrito que não vos associeis com os que se prostituem; isso não quer dizer absolutamente com os devassos deste mundo, ou com os avarentos, ou com os roubadores, ou com os idólatras; porque então vos seria necessário sair do mundo. Mas, agora, escrevi que não vos associeis com aquele que, dizendo-se irmão, for devasso, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador; com o tal nem ainda comais. (1 Cor. 5:9–11)

Ou seja, ele diz em nossa conhecida primeira carta aos coríntios que “já por carta” lhes tinha escrito  e que “agora” escreveu outra carta. Então, a nossa primeira carta dele as coríntios seria, na verdade, a segunda. E a nossa segunda carta dele à mesma igreja, seria, de fato, a terceira.

Mas onde está essa carta escrita anteriormente? Não há outra coisa a ser dita sobre ela: “agora perdida”(1), “não existe mais”(2).

Essa carta, então, poderia ser a carta aos Efésios, escrita para circular, por assim dizer?

E se as cartas perdidas forem eventualmente encontradas? Deverão ser incorporadas ao Novo Testamento? Primeiramente, devemos cogitar se essa decisão deve ser tomada a priori (caso 1), com base e princípios, ou a posteriori (caso 2), com base no conteúdo das cartas hipoteticamente e tardiamente encontradas. Por exemplo, no caso 2, encontrar-se-ia Paulo falando, na real primeira carta de Paulo aos coríntios, se encontrada, que eles não se associassem com os que se prostituem, como ele relembra na carta seguinte? (“Já por carta vos tenho escrito que não vos associeis com os que se prostituem.”)

No caso 1, a questão fundamental é se o cânon do Novo Testamento deve ser considerado, por definição, fechado ou aberto, dependendo do que se considera o seu status teológico, incluindo a autoridade definidora dos seus limites. Sobre isso, consideremos as ideias de Werner G. Kümmel. Vamos para

 

Já por carta vos tenho escrito que não vos associeis com os que se prostituem; i

 

 

 

Were these “lost” letters as inspired and infallible as those which were included in the canon? Yes, I believe so, especially given the fact that Paul’s instructions in Colossians 4:16 envision the church hearing and heeding the content of both letters. Likewise, there’s no indication in 1 Corinthians 5:9-11 and 2 Corinthians 2:4,9 that he viewed these “lost” documents as possessing a lesser moral authority than the canonical Corinthian correspondence. I can only conclude that the Colossian Christians (and Corinthians, as well as all others who had access to these “lost” epistles) were as morally obligated to believe and obey what Paul wrote in them as they were what he wrote in the epistles that eventually made their way into the biblical canon.

It’s a moot point, for I’m convinced they won’t be found. If God deemed them essential for the life of the church in the twenty-first century (indeed, for the life of the church in the entire post-apostolic period), he would certainly have preserved them and providentially orchestrated their inclusion in the canon along with those documents that now constitute what we regard as Scripture. Therefore, I’ll leave it to others to speculate on what the universal body of Christ should/would do if I happen to be proven wrong.

 

(1) Paul W. Marsh. The First Letter to the Corinthians. In: A New Testament Commentary. G. C. D. Howley (gen. ed.). Grand Rapids, MI: Zondervan, 1969. p. 385. Tradução nossa.

(2) A Primeira Carta aos Coríntios. In: O Novo Comentário Bíblico – Novo Testamento. H. Wayne House (ed. do NT). Rio de Janeiro: Central Gospel, 2010. p. 419)

Descomplicando a Fé Cristã
Compartilhe esta página