Com muita frequência, vejo em textos jornalísticos o nome “Universidade de Harvard”. Mas Harvard não é um lugar e sim o sobrenome do patrono da universidade, o pastor John Harvard. Do mesmo modo, diz-se “Universidade de Yale/Cornell/ Stanford”, com se esses nomes fossem de localidades. Mas são sobrenomes de Elihu Yale, Ezra Cornell e Leland Stanford Junior. Pelo exposto, reforçado pelo fato de não dizermos “Universidade de Estácio de Sá” e “Universidade de Cândido Mendes”, por exemplo, por que não dizer Universidade Harvard/Yale/Cornell/Stanford etc., sem a indevida preposição?

Quando um redator se depara com um nome em um texto em outra língua, o qual está traduzindo, é recomendável procurar entendê-lo. No caso de Harvard, ver-se-á que a universidade está sediada na cidade de Cambridge, em Massachussets, e que o seu nome é sobrenome do patrono. Quando escrevemos “Universidade de Stanford”, induzimos o leitor ao erro de pensar que a universidade se localiza na cidade de Stanford, que não existe.

Certa vez, uma revisora americana que trabalhava sobre um texto meu, me disse que eu colocara o nome de um autor no lugar errado, na referência bibliográfica: no lugar da cidade da publicação. Mas ela não sabia que Milton Keynes era o nome de uma cidade inglesa, justamente onde se localizava a editora do livro.

Mauro Gama escreveu no prefácio à segunda edição do Dicionário de Provérbios: francês, português, inglês, de Roberto Cortes de Lacerda, Helena da Rosa Cortes de Lacerda e Estela dos Santos Abreu: “Quem traduz um texto tem de traduzir o seu contexto. Histórica e geograficamente. Como isso não costuma ser observado, a confusão aparece em toda parte.”[1] Gama diz ainda que vivemos “numa terra culturalmente invadida, devorada por trêfego processo de neocolonização, em que um inglês não sabido, mas cobiçado, arremedado, […] se infiltra em toda parte, permeia todo o nosso e, às vezes, as nossas melhores reservas de tolerância.”[2]

[1] 2. ed. rev. e ampl. São Paulo: UNESP, 2004, p. xiv.
[2] Ibid., p. xiii.