O apóstolo Paulo recomendou que as anciãs cristãs “sejam sérias no seu viver, como convém a santas […] não dadas a muito vinho […]” (Tito 2:3). Sim, está no texto grego: “οἴνῳ πολλῷ”. Seriedade, santidade e moderação. O apóstolo também recomendou que os diáconos não sejam dados a “muito vinho”. Também está no texto grego: “οἴνῳ πολλῷ” (1 Timóteo 3:8). Não é necessário que tentemos ser mais apostólicos do que o apóstolo; aliás, é impróprio.

Há quem defenda que o vinho, nos tempos bíblicos, tinha uma elevada taxa de diluição com água. Nesse caso, não era preciso haver grande preocupação com a embriaguez. Outra ideia é que o vinho “bíblico” não era fermentado; ou seja, era suco de uva. Também nesse caso, nenhum autor bíblico sequer precisaria se preocupar em condenar a embriaguez. George Arthur Buttrick comentou sobre Deuteronômio 14:26: “Alguns, no movimento de temperança, têm mantido que o vinho bíblico era não-fermentado e nunca intoxicante. A palavra hebraica shēkhār (bebida forte), no entanto, definitivamente contradiz esta opinião. […] A Bíblia contém material adequado para o ensino da temperança, sem a necessidade de interpretá-la mal injustificadamente.”[1]

Jesus e sua mãe foram a um casamento em Caná da Galileia. “E, faltando o vinho, a mãe de Jesus lhe disse: Não têm vinho” (João 2:3). “Disse-lhes Jesus: Enchei de água essas talhas. E encheram-nas até em cima. E disse-lhes: Tirai agora e levai ao mestre-sala. E levaram” (vv. 7–8).

Eu ouvi um dono de um bar dizer que doses seguintes de cachaça, que ele serve a seus fregueses, “têm mais água que cachaça; porque os caras já não conseguem saber que não é cachaça pura”. No caso do milagre feito por Jesus, “logo que o mestre-sala provou a água feita vinho (não sabendo de onde viera, se bem que o sabiam os empregados que tinham tirado a água), chamou o mestre-sala ao esposo. E disse-lhe: Todo homem põe primeiro o vinho bom e, quando já têm bebido bem, então, o inferior; mas tu guardaste até agora o bom vinho” (vv. 9–10). Segundo o mestre-sala, todo mundo serve vinho bom no início da festa e vinho ruim no final, “quando já têm bebido bastante”; mas o dono da festa, segundo o mestre-sala, guardou o melhor vinho para o final da festa. Na verdade, o moço não fez exatamente isso. O melhor vinho foi oferecido por Jesus.

Certa vez, um jovem senhor me disse: “O meu Jesus não transformaria água em alguma coisa que embebedasse.” E um pregador disse: “Se houvesse vinho naquela festa, Jesus não teria ido lá.” Mas qual seria o sentido de o mestre-sala dizer que todo mundo oferece vinho inferior, quando todos já beberam bastante, se não que a embriaguez esteja implicada? Que sentido faria se o texto estivesse falando de vinho bem diluído ou de suco de uva, tanto no caso do vinho servido no início da festa, quanto do vinho que Jesus providenciou?

[1] The Interpreter’s Bible. Leviticus. Numbers. Deuteronomy. Joshua. Judges. Ruth. Samuel. v. 2. Nashville: Abingdon-Cokesbury, 1951. pp. 425–426. Tradução nossa.